quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resenha do Livro: "A Águia e a galinha" de Leonardo Boff

                                       


Resenha do Livro “A Águia e a Galinha” de Leonardo Bolf

A obra “A Águia e a Galinha” de Leonardo Bolf aborda em forma de metáfora a condição humana nas diversas variantes na realidade do imenso universo. O mesmo inicia-se seus escritos levantando discussões sobre as diferentes hermenêuticas onde cita: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”, e “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam”, onde suscita em cada um de nós a indagação das diferentes interpretações que em sua maioria baseiam-se nos conhecimentos e experiências do individuo.
Fazendo um breve histórico sobre a África e diferentes colonizações que existiram nos continentes deparamo-nos com uma questão muito discutida nos últimos anos, a questão da liberdade não apenas de tornar-se independente mas de quebrar com antigos paradigmas que apresenta resquícios até os dias de hoje. A sociedade contemporânea está impregnada de modismos e “modelos pré-estabelecidos” e que muitas vezes a nossa LIBERDADE acaba por ser engaiolada por tais, sendo aqueles que vão contra tais entendimentos vitimas de preconceitos e exclusão por parte daqueles que julgam serem os donos de tais atividades, e até mesmo pela sociedade leiga que infelizmente não consegue enxergar o principal objetivo empírico de tais atividades.
No decorrer dos escritos chegamos ao ponto central de toda a discussão estabelecido por um político que também era educador chamado James Aggrey nascido em Gana, África Ocidental é autor de uma história que sem dúvidas acrescenta em muito na vida e nos conhecimentos de todas as pessoas. Baseado em experiências no seu país e em todo o processo de colonização, Aggrey escreve sua belíssima historia. De forma resumida baseia-se em uma águia que foi criada como galinha desde que era um filhote, durante todo seu desenvolvimento a águia era mantida em um ambiente comum aos das galinhas absorvendo assim todos os hábitos da espécie. Depois de alguns anos um naturalista ao visitar o camponês proprietário das criações alegou que mesmo sendo criada como galinha, a águia continuava a ser águia, logo iniciaram a tentativa de devolver a águia ao seu habitat natural, depois de algumas tentativas, mesmo com muito receio do animal de voltar àquele ambiente que era estranho a ele, o mesmo voou e retornou ao seu âmbito natural. Essa historia foi repetida pelos hebreus com algumas diferenças, mas a essência e a mensagem transmitida apresentam-se a mesma.
Leonardo Boff desenvolveu várias pesquisas a respeito da águia, o que possibilitou a magnífica metáfora exposta por ele em sua obra. O autor traz essa história para nossas vidas apontando que muitas vezes nos deparamos em situações como a da historia de James Aggrey, nós seres humanos temos dimensões águia e galinha, sendo a distinção feita pelo autor em que a dimensão galinha ganha em nossa realidade sinônimos como: realidade, necessidade, história, fato, corpo dentre tantas outras. Já a dimensão águia como: sonho, desejo, utopia, idéia, alma.
Sendo assim entendemos que a mais difícil consideração que podemos fazer sobre nossa existência é a ponderação, buscar o ponto de equilíbrio dentre essas dimensões tão apostas, mas ao mesmo tempo tão complementares e fáticas em nosso cotidiano. Inúmeras vezes nos deparamos em situações crucias de decisões, onde tal escolha decidirá e influenciará diversos setores em nossas vidas, buscar a razoabilidade e ponderar não é tarefa fácil, mas é essencial para a própria existência e construção da personalidade humana.
O autor faz muitas considerações a respeito do universo, expondo-o como complexo e que os cientistas por meios das especializações, divisões tentam reduzir o complexo ao simples e que a conseqüência direta de tal ação é que “ganha-se em detalhe mas perde-se a totalidade”.Esquece-se  muitas vezes o ser em favor do existir e do ter. Formando dualismo ao invés de dualidade que enxerga o comum, o participativo onde todos compõem a mesma complexidade.
Seria muita pretensão afirmar que a realidade apresenta-se de forma simplista pois “o caos nunca é absoluto, e a ordem jamais estável” a principal busca é a do equilíbrio. Procurando sempre o complementar inserido na totalidade assim conferindo dinamismo e elegância a realidade.
Outro fator alvo de apontamentos e metáforas no texto é questão do corpo e da alma onde o complexo é constituído de corpo e alma “ele não tem corpo e alma. É corpo e alma”. As pessoas freqüentemente insistem em separá-los errando constantemente, pois os mesmo são complementares tentar separá-los é cair no erro das especificações, detalhamento, reduções e divisões perdendo assim o todo, a totalidade que ambos apresentam, e como consequência perdendo também a belíssima essência do conjunto.
Outro item contraposto pelo autor é a religião e a fé, onde se divide a realidade em concreta e complexa, onde a religião é concreta caracterizando-se a dimensão galinha, onde temos preceitos e regras estabelecidas para seguimento. Já a fé apresenta-se na dimensão águia, pois nesse âmbito não temos normas nem palavras adequadas tudo se direciona a “grandeza transbordante de Deus”.
Cada ser humano tem si sentimentos próprios e obstáculos pontuais, o ambiente muitas vezes é determinante para o futuro de tal, mas não se trata de uma regra indiscutível,  afinal todos nós temos um pouco de águia e de galinha, o que acontece que muitas vezes nos submetemos ao comodismo, ao conformismo e ao pragmatismos aniquilando nossa dimensão águia fugindo assim dos desafios apresentados. “Um fraco mais um fraco não são dois fracos, mas um forte” temos que quebrar com tais determinações, cada um tem inúmeras potencialidades que trabalhadas em conjunto trará benefícios imensuráveis e inimagináveis.
Em cada um de nós existe um “herói/heroína”, não trata-se daqueles com super poderes massificados e sim aqueles “heróis/heroínas” do cotidiano, pois já dizia o poeta “Caminhante não há caminho. Faz-se caminho ao caminhar”. No nosso dia-a-dia somos lutadores, que enfrenta os obstáculos mais variados na longa caminhada da realização. Temos que ser sábios, sabedoria essa que é construída ao longo da caminhada, dentre as diversas virtudes citamos a humildade como já dizia o filosofo Sócrates “só sei que nada sei”, onde se conclui que a sabedoria ultrapassa muitos limites, e que o verdadeiro sábio é aquele que se posiciona como constante aprendiz, aquele que aprende com o todo e não se contenta com o que sabe, que apresenta-se de forma tão pequena comparado com a imensidão e a complexidade do universo.
Logo finaliza-se com apontamentos de que não devemos não restringir a sermos galinhas (apenas recebendo e obedecendo mandamento) e nem apenas águias (fugindo do real tendo o onírico e o idealismo como alicerce da realidade).Devemos nos posicionar e utilizar de nossas armas, para trilharmos nosso caminho da melhor forma possível, não é uma missão fácil buscar o equilíbrio de ambas dimensões mas ninguém disse que seria fácil, a luta é constante ao “peregrino”, buscar cada vez viver melhor em sintonia com a totalidade, buscar a sabedoria com humildade sem jamais esquecer que VOCÊ faz parte ATIVA integrante da totalidade complexa, que o individualismo não é o caminho, que o egoísmo não é saída. As vezes diante das dificuldades pensamos que tais palavras não passam apenas de um discurso ideológico e moralista que na prática são apenas belas palavras, mas retomo ao exemplo da águia que machucada dependeu de um bom homem que pudesse cuidar dela e não extinguir a possibilidade de reconstrução de uma nova historia. Sendo assim deixo-lhes a mensagem de que o bem sempre vale a pena, por menor que seja a iniciativa esta sempre fará a diferença na vida dos envolvidos.



Referência Bibliográfica:

BOFF, Leonardo. 
A águia e a galinha, a metáfora da condição humana. 40 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

Ana Cristina da C. Santos é acadêmica do Curso de Direito da Universidade Católica de Brasília – UCB Campus I - Taguatinga / Maio de 2011.

2 comentários: